quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Doença da Descompressão

A doença por descompressão (mal da descompressão, embolia gasosa, paralisia dos mergulhadores) ocorre quando os gases dissolvidos no sangue e nos tecidos formam bolhas que obstruem a passagem do sangue, provocando dor ou outros sintomas.

Podem formar-se bolhas quando uma pessoa se desloca de um ambiente de alta pressão para outro de baixa pressão, o que acontece ao subir de uma imersão.
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Causas e prevenção

Um mergulhador ou uma pessoa que trabalha num ambiente com ar comprimido, quando respira, recebe grandes quantidades de oxigénio, de azoto e de outros gases. Como o oxigénio é continuamente utilizado pelo corpo, geralmente não se acumula. No entanto, o azoto e outros gases dissolvem-se no sangue e nos tecidos e esses sim acumulam-se. A única forma de serem eliminados do corpo é pelos pulmões, onde chegam através da corrente sanguínea (ou seja, pelo caminho contrário ao utilizado para entrar), e este processo leva tempo. À medida que a pressão exterior diminui, o que acontece durante uma subida após uma imersão, a pressão no sangue pode não ser suficiente para manter os gases dissolvidos e, por isso, formam-se bolhas.
O mergulhador pode evitar a formação de bolhas restringindo a quantidade total do gás que o corpo absorve. Esta quantidade pode ser reduzida limitando a profundidade e a duração das imersões até ao ponto em que não seja necessário fazer paragens de descompressão durante a subida (uma modalidade a que os mergulhadores chamam limites sem paragens) ou, então, subindo com paragens de descompressão tal como se especifica em textos autorizados. Nestes textos pormenoriza-se um padrão de subida que, geralmente, permite que o excesso de azoto seja eliminado sem provocar qualquer dano.
A doença por descompressão raramente acontece quando os mergulhadores fazem uma imersão com limites sem paragens ou respeitam exactamente uma tabela de descompressão. No entanto, a percepção que um mergulhador tem quanto à profundidade, a duração e o tempo de descompressão de uma imersão não é muito rigorosa. Muitos mergulhadores crêem, erradamente, que as tabelas de imersão gozam de margens de segurança e não as respeitam com a precisão que deveriam. As novas orientações referentes à velocidade de subida, os limites sem paragens, as tabelas e os computadores que os mergulhadores transportam para calcular a descompressão têm uma margem de segurança muito maior, mas também podem ser mal utilizados. Como a segurança da maioria das tabelas e dos computadores que calculam a descompressão não tem sido totalmente comprovada em mulheres ou em mergulhadores de idade avançada, estas pessoas deverão utilizá-los com grande precaução. Além de seguirem as instruções de subida que uma tabela ou um computador proporcionam, muitos mergulhadores fazem uma paragem de segurança de poucos minutos a 4,5 m antes de chegar à superfície.
Uma sucessão de imersões pode provocar a doença por descompressão. Devido ao facto de, depois de cada imersão, ficar um excesso de gás no corpo, essa quantidade aumenta em cada nova imersão. Se o intervalo entre as imersões for inferior a 12 horas, os mergulhadores deverão seguir as instruções das tabelas para imersões contínuas dos textos autorizados, com o fim de controlar o excesso de gás.
Se se mergulhar em lugares situados a grande altitude, devem ser tomadas precauções especiais, sobretudo se for preciso voar depois. Por exemplo, depois de vários dias de imersão, é recomendável passar 24 horas num lugar situado ao nível do mar, antes de fazer uma viagem aérea ou subir mais.
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Sintomas
O sintoma mais comum é a dor, que se denomina «paralisia dos mergulhadores». Normalmente ocorre numa articulação do braço ou da perna, ou perto dela, embora normalmente seja difícil determiná-la. A dor também é difícil de descrever (às vezes diz-se que é «profunda» ou que dá a sensação de que «algo está a perfurar o osso»). Noutros casos, a dor é aguda e a sua localização precisa. Ao princípio pode ser ligeira ou intermitente, mas pouco a pouco pode piorar e tornar-se realmente intensa. Em geral, a zona dorida não dói ao ser pressionada, não está inflamada nem implica dificuldades de movimento.
Os sintomas neurológicos vão desde uma confusão ligeira a um funcionamento cerebral anormal. A espinal medula é especialmente vulnerável e sintomas aparentemente menos importantes, como fraqueza ou formigueiro num braço ou numa perna, podem preceder uma paralisia irreversível, a menos que o processo seja tratado de imediato com oxigénio e recompressão. O ouvido interno pode ser afectado, de tal forma que a pessoa sente uma vertigem intensa.
As comichões, a erupção cutânea e a fadiga aguda são sintomas menos frequentes. O aparecimento de manchas (marmoreação) na pele, um sintoma em geral muito pouco frequente, pode preceder ou acompanhar graves problemas que requerem recompressão. A dor abdominal pode dever-se à formação de bolhas no abdómen, mas a dor que envolve o corpo como um cinto (dor de cintura) pode indicar uma lesão na espinal medula.
Os efeitos tardios do mal da descompressão incluem a destruição do tecido ósseo (osteonecrose disbárica, necrose óssea asséptica), especialmente no ombro e na anca, provocando uma dor persistente e uma incapacidade grave. Estas lesões são muito mais frequentes entre quem trabalha em ambientes com ar comprimido do que entre os mergulhadores, provavelmente porque a exposição dos primeiros a altas pressões é prolongada e as embolias gasosas que sofrem nem sempre são tratadas. Só uma descompressão incorrecta pode provocar estas lesões, que pioram gradualmente com o passar dos meses e dos anos. Quando os sintomas aparecem, já é tarde para tomar medidas preventivas.
Os problemas neurológicos permanentes, como uma paralisia parcial, costumam dever-se a um tratamento atrasado ou inadequado de uma afecção da medula óssea. No entanto, em determinados casos a lesão é tão grave que não pode ser corrigida, mesmo com um tratamento apropriado. Os tratamentos repetidos com oxigénio numa câmara de alta pressão parecem ajudar algumas pessoas a recuperarem das lesões medulares. Uma lesão da medula óssea espinal causada por descompressão tem mais possibilidades de recuperar do que a mesma lesão provocada por outros factores.
O mal da descompressão respiratória (sufocação) é uma perturbação pouco frequente, mas, no entanto, perigosa, provocada por uma grande obstrução dos vasos sanguíneos pulmonares pela formação de bolhas. Em alguns casos, esse problema resolve-se sem tratamento, mas também pode piorar rapidamente até provocar um colapso circulatório e a morte, a menos que se faça de imediato uma recompressão. Os primeiros sintomas podem ser mal-estar no peito e tosse ao inspirar profundamente ou ao inalar fumo de cigarro.
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Tratamento
Quando se verifica uma descompressão é necessário fazer uma recompressão numa câmara de alta pressão, na qual esta é gradualmente aumentada, com o objectivo de as bolhas formadas serem comprimidas e dissolvidas. Como consequência, recupera-se o fluxo normal de sangue e o fornecimento de oxigénio aos tecidos afectados. Depois da recompressão, a pressão é gradualmente reduzida, com pausas preestabelecidas, para dar tempo a que o excesso de gases abandonem o organismo sem provocarem qualquer dano.
A transferência da pessoa para uma câmara adequada é prioritária em relação a qualquer outra medida durante a referida transferência ou que possa ser adiada sem que tal implique um risco para a sua vida.
O transporte não deverá tardar, mesmo que os sintomas pareçam ligeiros, porque podem surgir problemas mais graves. Independentemente da distância a que a câmara se encontre ou do tempo que se leve a chegar a ela, a recompressão será provavelmente muito benéfica. Uma recompressão desnecessária implica menos risco do que qualquer medida que possa ser tomada na esperança de que o problema regrida sem recorrer à recompressão. Durante a transferência deve ser administrado oxigénio com uma máscara bem ajustada, líquidos em quantidade suficiente, registando as entradas dos mesmos, a quantidade que for eliminada, bem como os sinais vitais. Pode produzir-se um choque, sobretudo em casos graves em que o tratamento tarde.
Qualquer que seja o lugar onde se realize a imersão, tanto os mergulhadores como as unidades de socorro e a polícia das zonas de mergulho mais frequentadas deverão saber onde se localiza a câmara de recompressão mais próxima, conhecer os meios para chegar a ela mais rapidamente e a fonte de contacto telefónico mais apropriada.
Se não se prestar assistência imediata nem se tratar adequadamente a embolia gasosa ou o mal da descompressão, corre-se um elevado risco de a pessoa afectada sofrer lesões graves e permanentes.
Os mergulhadores que só sofrem comichões, erupção cutânea e grande fadiga normalmente não precisam de recompressão, mas deverão permanecer em observação para a eventualidade de surgirem sintomas mais graves. Respirar oxigénio a fundo, com uma máscara ajustada, pode aliviar os sintomas.
Quando a sufocação ocorre a grande altitude, o facto de descer para uma altitude menor nem sempre resolve o problema. Pode ser necessário fazer uma recompressão urgente numa câmara de alta pressão.

Preparação para a imersão
Várias condições físicas e mentais podem aumentar o risco de contratempos e de lesões durante uma imersão. Por isso, as pessoas que desejem mergulhar deverão ser examinadas por um médico que conheça o tema. Os mergulhadores profissionais podem ser submetidos a testes clínicos específicos, como os que controlam o funcionamento do 
coração e dos pulmões, provas de esforço e controlos do ouvido e da vista; também lhes são feitas radiografias aos ossos. Além disso, é absolutamente necessário que a pessoa esteja treinada para mergulhar.

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